quarta-feira, 16 de junho de 2010

Os Mitos do Turismo (parte 4/4 - Propostas)

Não basta constatar, analisar e criticar a situação atual do mitos do turismo vendidos pelo sistema. É preciso apontar propostas para sair desse círculo vicioso. Abaixo seguem sugestões para um turismo sustentável e a serviço das comunidades. A fonte do texto permanece a mesma citada na primeira parte desta série Os Mitos do Turismo.

Ainda que acréscimos e melhorias possam e devam aparecer, a atualidade e similaridade dos mitos e das propostas aqui apresentadas com a situação no Brasil são espantosas.

Boa leitura e mãos à obra!!!

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PROPOSTAS


Frente aos impactos negativos que determinadas formas de desenvolvimento turístico provocam entendemos que temos que resistir, fazer frente à venda e privatização dos nossos territórios e de nosso patrimônio. As comunidades têm direito de dizer não ao turismo, se assim decidirem.

Ao mesmo tempo, e se as pessoas desejam, determinadas formas de desenvolvimento turístico podem ser uma forma de diversificar e complementar as economias locais. O Turismo Comunitário pode ser a melhor forma de pôr em marcha atividades turísticas pelas comunidades rurais. Isso quer dizer:

- Um turismo gerido em comunidades rurais pelas famílias camponesas, por cooperativas agropecuárias, por povos indígenas.

- Um turismo complementar às atividades produtivas tradicionais, como a agricultura ou a pesca, não como substituto, mas como parte de uma estratégia de diversificação econômica.

- Um turismo de pequeno porte, e no qual a população local, através de suas estruturas organizativas, exerça um papel fundamental no seu controle e gestão.

- Um turismo que reforce instrumentos de organização coletiva.

- Um turismo que contribua para a manutenção da propriedade dos recursos essenciais, como a terra e a água, por exemplo, nas mãos das comunidades rurais, e que possa fazer parte de uma estratégia de resistência frente à pressão dos mega projetos turísticos e imobiliários que tratam de se instalar nos melhores lugares do território.

- Um turismo que vise a distribuição eqüitativa dos benefícios.

O Turismo Comunitário começa a ser uma realidade na América Latina. Povos indígenas e comunidades de camponeses de diversas partes da América Latina têm dado forma a esta proposta. Nesse sentido se destacam a “Declaração de Otavalo de turismo comunitário, sustentável, competitivo e com identidade” (setembro de 2001) e a “Declaração de San José sobre turismo rural e comunitário” (outubro de 2003).

Através dessas declarações as organizações de povos indígenas e comunidades rurais assinantes declararam o desejo de que o turismo possa incluir melhoras em suas condições de vida e trabalho na medida que seja uma atividade “socialmente solidária, ambientalmente responsável, culturalmente enriquecedora e economicamente viável”. E isso passa necessariamente, entre outras coisas, pela justa distribuição dos seus benefícios.

O Turismo Comunitário implica na autogestão da atividade turística, de tal forma que a comunidade assuma o controle de todos os processos de planejamento, operação, supervisão e desenvolvimento. Afirma-se assim a reivindicação do direito à propriedade e o uso das terras em territórios nas mãos das comunidades camponesas e povos indígenas:

Consideramos que ao empreender qualquer atividade econômica, o turismo em particular, deve-se adotar uma política de planejamento e gestão sustentável dos recursos naturais. Queremos ser cautelosos no momento de construir nova infraestrutura ou de ampliar a existente. Recusamos vender ou ceder em concessão nossas terras a pessoas que não sejam de nossas comunidades. Desaprovamos toda decisão que contrarie este princípio” (Declaração de San José).

O Turismo Comunitário pode abraçar e estabelecer alianças com pequenas e médias empresas nacionais com o objetivo de elaborar uma proposta turística atrativa e economicamente sustentável.

Façamos nossas próprias propostas e nos juntemos às redes de turismo rural e comunitário”.

4 comentários:

  1. Uma das experiências mais belas que tive com o turismo comunitário foi na comunidade de Tatajuba, no Ceará. Fiquei hospedada na casa de uma das moradoras e vivi a rotina deles com todas as suas peculiaridades. O projeto faz parte da Rede Tucum de Turismo Comunitário e está presente em diversas comunidades cearenses...
    O problema é que os moradores de Tatajuba vivem hoje uma guerra contra grileiros, já que ninguém lá tem documento de posse de terra. Situação inadmissível, que o turismo está possibilitando que se torne pública.

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  2. Oi Ana, obrigado pelos comentários.
    Embora bem-vindas e animadoras, essas iniciativas carecem de articulação com as demais semelhantes pelos interiores do Brasil, de maneira a englobarem uma política nacional.
    A indústria predatória do turismo age em bloco, feito rolo compressor. Daí não podermos nos contentar com ações isoladas.
    Os problemas e as soluções socioambientais atravessam inúmeras áreas, não só ambientais, mas também sociais, econômicas, culturais, politicas. Somente se agirmos assim, articulada e unificadamente, chegaremos lá.
    Mas o compartilhamento de denúncias já é um necessário começo. Vamos lá!
    Comente sempre!

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  3. Bem se vê que o turismo, como qualquer outro ramo do capitalismo, só visa o lucro. Jamais se preocupa com a natureza e com as populações originais dos locais visitados. Corroborando esse texto tão esclarecedor, somente as populações tradicionais poderiam administrar a visitação segundo critérios decididos por elas próprias.

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  4. Olá!
    Obrigado pela visita e comentários.
    É por aí mesmo. O que visa lucro é antagônico com as aspirações das sociedades.
    Comente sempre!

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